Poluído e tomado pela vegetação, situação do lago do Parque Pinhal preocupa moradores 

Leandra Cruber

Poluído e tomado pela vegetação, situação do lago do Parque Pinhal preocupa moradores 

Eduardo Ramos

Hoje, milhares de plantas aquáticas fazem parecer que o lago se tornou um campo de futebol. Foto: Eduardo Ramos. Em agosto de 2021, a vegetação já se proliferava no lago. No entanto, o espelho d’água ainda se mantinha. Foto: Arquivo pessoal.

Há quase dois anos, o grande espelho d’água do Parque Pinhal, em Itaara, transformou-se em um problema que atormenta os moradores de cerca de 480 casas do local. O lago que refletia o céu e que está na memória de itaarenses e santa-marienses, de nascimento ou de coração, já não existe mais. Hoje, uma grande quantidade de plantas aquáticas, como as populares marrequinhas e aguapés, tomaram conta do local que mais parece um campo de futebol.

No entanto, por baixo da vegetação, uma camada de lodo se forma. Segundo moradores, parte do esgoto de Itaara, ainda que de forma indireta, chega ao lago. Assim, com o acúmulo de matéria orgânica, as plantas se multiplicam e se desenvolvem facilmente. Mas, para além da mudança na paisagem, o mau cheiro e a proliferação de mosquitos preocupam os moradores.

Criada em 2005, a Associação dos Amigos do Parque Pinhal (AAPP) busca soluções para as demandas da comunidade. A limpeza do lago é uma delas. Hoje, a presidente da AAPP, Daniela Battaglin, diz que, apesar dos projetos apresentados pela entidade, que tem o desejo de revitalizar a área para oferecer maior qualidade de vida aos moradores, assim como torná-la mais atrativa aos visitantes, há um abandono do poder público.

– Nós, moradores, realizamos a limpeza do lago diversas vezes. Essa vegetação, que chamamos de marrequinha, está por cima de um lodo. Tem dias que sentimos um cheiro ruim que vem do lago. Muitas aves também circulam por aqui e elas acabam se refrescando nessa água suja. Já participamos de diversas reuniões com representantes da prefeitura para ver o que é possível fazer. E nada vai para a frente. É muito cansativo porque podemos até limpar, mas sabemos que a vegetação vai voltar se essa questão do esgoto não for resolvida – ressalta Daniela, que mora há nove anos no Parque Pinhal.

Aos 66 anos, Maria Teresinha Alves Silveira, acompanha a história do lago há 14 anos. Além de morar no entorno, ela trabalha no Convescote Chá e Café, empreendimento familiar que pertence à filha. O charmoso café fica bem em frente ao lago e, durante algum tempo, os clientes puderam apreciar as delícias do Convescote e contemplar a vista para o espelho d´água. Nos últimos anos, a realidade é outra. Frequentemente, Maria precisa explicar aos clientes o que ocorreu:

– É comum que as pessoas cheguem aqui e perguntem se erraram o local. A grande referência era o lago. Quem chega se depara praticamente com um campo porque tem umas partes que estão assoreadas. É decepcionante. Mas, isso vai muito além dos negócios. Esse lago faz parte da história de muitas famílias. As pessoas até andavam de barco por aqui. Muitas aves nasciam e cresciam na beira do lago. Hoje, por mais que tenhamos alguns bichinhos que se refrescam, a diversidade diminuiu bastante.

MP acompanha a situação

Em 2006, o Ministério Público ajuizou uma ação de execução, que tramita na Promotoria de Defesa Comunitária de Santa Maria, com uma série de obrigações relacionadas ao meio ambiente que a prefeitura de Itaara deveria cumprir. Entre os pedidos, destaca-se a orientação aos moradores em relação ao descarte de lixo, principalmente em cursos d’agua; instalação de filtros anaeróbios e sumidouros coletivos para recebimento do esgoto de alguns loteamentos, como Vila Brasília, Vila Primavera e Acampamento Batista Gaúcho; e comprometimento do município a notificar cada uma das residências a instalarem fossas sépticas ligadas aos filtros anaeróbios e os sumidouros.

Na época, o município também deveria especificar a quantidade de moradias entorno do lago que já tinham fossas sépticas instaladas, quantas não cumpriam com a determinação e já fixar um prazo para a regularização.

O que diz a prefeitura

Para a secretária de Desenvolvimento Agropecuário e Meio Ambiente, Cassiane Rodrigues, ainda que o lago do Parque Pinhal precise de soluções emergenciais, o saneamento básico será tratado de forma progressiva em Itaara. Ainda, não existe uma previsão de quando o problema será, de fato, solucionado.

– Agora, com o SoluTrat da Corsan, nossa expectativa é que possamos resolver a questão do escoamento do esgoto que facilita a proliferação das marrequinhas no lago. Porém, isso é de médio a longo prazo. A limpeza do lago também é uma das nossas prioridades nesse momento – afirma.

Problema estaria ligado à falta de saneamento básico

Segundo o engenheiro ambiental Vitor Bolzan, que atuou como secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Meio Ambiente de Itaara por cerca de um ano, o grande problema do município é o saneamento básico. Devido ao pequeno porte, Itaara não possui rede de esgoto. Assim, as casas precisam ter soluções individuais com um sistema de fossa, filtro e sumidouro para que o esgoto seja tratado. No entanto, ainda não há uma fiscalização em relação a isso. Ou seja, existem moradores que não possuem condições de ter o sistema completo ou quem adota outras medidas ineficazes em alternativa ao sistema recomendado.

– O município tem muitos balneários, cachoeiras e outros caminhos de água. Com as chuvas, é comum que essas águas escoem junto dos rejeitos orgânicos de locais que não possuem o sistema de fossa, filtro e sumidouro. Logo, o esgoto vai para o solo. Isso significa que, mesmo que o esgoto de Itaara não seja direcionado ao lago do Parque Pinhal, o caminho d’água leva muita matéria orgânica para lá.

Eutrofização

O processo descrito por Bolzan é chamado de eutrofização. Neste caso, quando um corpo d’ água recebe uma grande quantidade de efluentes com matéria orgânica enriquecida com minerais e nutrientes, o crescimento excessivo de algas e plantas aquáticas é induzido. Uma das consequências é a poluição de rios e lagos, que acabam adquirindo uma coloração turva e ficam com níveis baixos de oxigênio dissolvido na água. Isso provoca a morte de diversas espécies animais e vegetais, e tem impacto para os ecossistemas aquáticos.

As milhares de marrequinhas e aguapés que tomaram conta do local ilustram bem a eutrofização de um lago. Hoje, a grande quantidade de plantas aquáticas indica, ainda, outro desafio para a administração pública de Itaara. Ainda que a vegetação seja retirada do lago, é preciso destinar de forma correta, visto que o rejeito possui uma grande quantidade de matéria orgânica.

Hoje, em razão do estado do lago, seria necessária uma draga, equipamento pesado comumente utilizado para alargar faixas de areia em praias, para retirar toda a vegetação.

Conforme o engenheiro ambiental, o tratamento de esgoto, que hoje não existe em Itaara, é um dos primeiros passos para tratar e evitar a eutrofização de corpos d’água.

Expectativa para o futuro

Apesar da situação e do cansaço de reivindicações sem respostas, a Associação dos Amigos do Parque Pinhal tem esperanças de, novamente, ver o espelho d’água que encantava os olhos. Conforme a presidente Daniela Battaglin, a entidade trabalha com projetos, um deles é uma pista de caminhada ao redor do lago:

– Temos um futuro sonhador e não podemos deixar de lutar por ele. Queremos que o lago seja limpo, que possamos dar continuidade ao projeto da pista de caminhada. Sabemos que tem muito potencial, tanto para moradores quanto para visitantes. Já vimos famílias trazendo crianças para interagir com a natureza e amigos curtindo o pôr do sol. Mas, hoje, é até perigoso para a saúde ter contato com o lago.

Marco do Saneamento Básico

Segundo José Epstein, superintendente regional da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), a entidade trabalha junto do Executivo para que o Novo Marco do Saneamento, que prevê a universalização de serviços de saneamento básico, seja devidamente implementado. Até o final de 2021, quando o município assinou um aditivo que prorrogou o contrato com a companhia, a Corsan era responsável somente pelo abastecimento de água.

– O esgotamento sanitário de Itaara era de responsabilidade do município ou de particulares. Ou seja, cada imóvel deveria possuir fossa, filtro e sumidouro. Esse é o tipo de solução individual indicada. Mas, sabemos que essa não é uma realidade. É preciso fazer uma manutenção de rotina para remoção do lodo. Muitas não faziam isso, assim, acabavam por perder a eficiência ao longo do tempo. Em janeiro, apresentamos o Programa SoluTrat à prefeitura e o objetivo é que o foco seja em áreas mais afetadas, como a região do lago.

A partir da iniciativa apresentada pela Corsan, estão previstas ações de educação ambiental, plano de comunicação para que moradores conheçam o programa e, a partir daí, vistoria e verificação dos imóveis para agendamento da limpeza das fossas sépticas.

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